segunda-feira, 25 de março de 2013

Água e bioetanol

Saiu hoje na Agência Fapesp uma reportagem especial que aponta impactos da agricultura e da pecuária sobre a composição química e a biodiversidade dos corpos d'água. Intitulada "Impactos das mudanças no uso da terra em corpos aquáticos", a reportagem de Elton Alisson destaca problemas causados pelas culturas de cana-de-açúcar e soja, assim como pela substituição de florestas por áreas de pastagem. Na causa dessa transformação do uso da terra estão os aumentos populacionais e da demanda de alimentos e energia.

As relações entre o avanço dessas atividades e alterações em rios e lagos são objeto de um estudo realizado por pesquisadores do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), em parceria a Universidade de Washington, Ecosystem Center e Wood Hole Research Center – nos Estados Unidos –, além da Universidade de Potsdam (Holanda) e University of British Columbia, do Canadá.

Seguem trechos selecionados da reportagem, com foco no nosso assunto, que é a cana e o bioetanol (grifos meus):

"De acordo com Ballester, membro do Programa FAPESP de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais, o cultivo da cana-de-açúcar pode causar diversos impactos ambientais. Um deles é provocado pelo uso da vinhaça (subproduto do refino do álcool) como fertilizante para a cultura. A vinhaça é rica em nitrogênio, composto químico que, em excesso na água de rios e lagos, pode favorecer o crescimento de algas. 
Outro problema sério em relação ao cultivo dessa cultura agrícola é a questão da água. “Para produzir 1 litro de álcool combustível a partir da cana-de-açúcar são necessários 1,4 mil litros da água. É uma produção muito cara em termos de água”, disse Ballester. 
Já a fuligem produzida pela queima da cana-de-açúcar durante a colheita, segundo a pesquisadora, contém um tipo de carbono diferente que pode ser assimilado em maior ou menor escala por organismos presentes em um rio, por exemplo. 
Ao se depositar no solo ou em um ecossistema aquático, o material modifica a ciclagem de carbono do meio. “A fuligem da cana acidifica o solo e a água e isso tem consequências para o ecossistema”, disse Ballester durante o Simpósio Japão-Brasil sobre Colaboração Científica. Organizado pela FAPESP e pela Sociedade Japonesa para a Promoção da Ciência (JSPS), o evento foi realizado nos dias 15 e 16 de março, em Tóquio."
[...] 
“A maior parte das áreas de produção de agroenergia não tem água suficiente para manter as culturas com elevada produtividade e será necessário irrigá-las. Isso representa outro problema sério que irá mudar o ciclo da água”, destacou [Ballester]."
As questões levantadas relacionam-se então com (i) a vinhaça como fertilizante, (ii) o elevado consumo de água no processo produtivo do etanol e (iii) a queima da cana, para a colheita. Com relação à queima da cana, vale lembrar que a Lei Estadual 11.241/2002 dispõe sobre a eliminação gradativa da queima da palha de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, onde se concentra o maior número de usinas sucroalcooleiras do país. O prazo para eliminação da prática é 2017, se cumprida a lei.

Para os problemas da vinhaça (que também pode comprometer lençóis freáticos) e do alto consumo de água no processo produtivo, haveria tecnologias novas ou em desenvolvimento que permitam (ao menos) atenuá-los?


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